Dia do Livro: Tiago Valente, o influenciador que move as livrarias – GQ
Tiago Valente, expoente de um novo movimento, os booktokers, influenciadores que divulgam livros no TikTok (Foto: Divulgação)
Na dez passada, a procura dos adolescentes por biografias de youtubers consagrados, porquê Christian Figueiredo e Kéfera, impactou o mercado livreiro.
Agora, a geração de jovens leitores tem sido influenciada por outro movimento, o “booktok”, que trata de indicações literárias em perfis do TikTok — a rede social que ficou famosa pelas dancinhas, mas há tempos figura também em outras prateleiras.
“Ao realizar ações com influenciadores, percebemos a mudança de posicionamento do livro nos rankings de venda”, comenta Flávia Lago, editora do Gutenberg, selo do Grupo Autêntica voltado ao público infantojuvenil.
Um dos expoentes dessa geração é o paulistano Tiago Valente, 24, que faz sucesso indicando livros infantojuvenis e que hoje reúne 346 milénio seguidores.
A invenção da literatura ocorreu na puerícia, pelo incentivo dos pais, que mantinham uma generosa livraria em morada. Já adulto, desenvolveu gostos próprios por autores porquê a britânica Agatha Christie e o setentrião-americano Ira Levin.
No Brasil, seu plumitivo preposto é Raphael Montes, prêmio Jabuti de 2020 na categoria romance de entretenimento.
O repertório do leitor voraz — costuma ler quatro livros simultaneamente —, unificado ao talento de ator, ofício que exerce desde os 9 anos, resultou em vídeos com obras resumidas em 30 segundos, num processo de roteirização, dramatização e edição feito sozinho e sob poderoso demanda.
“Iniciei gravando o que já tinha lido na vida. Mas começaram a pedir lançamentos e as editoras passaram a me procurar para indicar livros. Hoje é quase um fordismo literário”, diz ele, que mantém a publicação de dois vídeos patrocinados por semana.
Morando com a mãe e a mana (além de nove gatos), o influenciador mudou a rotina da moradia com seu trabalho, mas os pedidos de silêncio compensam.
O que era esporádico se tornou a principal manadeira de renda do jovem. Postagens conjuntas no Instagram e no TikTok não saem por menos de R$ 1.600.
Por ter ajudado a impulsionar esse segmento no TikTok, o booktoker recebe dicas da plataforma para estruturar o negócio, com treinamentos para o envolvente do dedo e tendências para manter a densidade do teor que produz.
Seus vídeos possuem classificação indicativa, legendas de acessibilidade e aviso de gatilhos para temas sensíveis. “Existe uma pressão da comunidade livreira nas redes por essa conscientização no teor”, afirma.
Essa percepção, ressalta Valente, é fruto de uma turma acostumada a debater questões sociais. Seu público é constituído prioritariamente de integrantes da geração Z (nascidos a partir dos anos 2000).
“Eles têm facilidade para falar sobre o que, pouco tempo detrás, era tabu. Por isso, não adianta querer formar jovens leitores se os livros recomendados não estiverem alinhados a essas temáticas”, explica.
A maioria das indicações está relacionada ao universo LGBTQIA+, gênero que ocupa as quatro primeiras colocações na lista dos mais vendidos de fevereiro, segundo o PublishNews, site devotado à cobertura do mercado literário no Brasil.
Além de vídeos no TikTok, Valente suplente tempo para apresentar um podcast em que lê e comenta histórias de terror, finalizar o mestrado em letras sobre a obra do cineasta Alfred Hitchcock e, evidente, interagir com os fãs.
“Mais legítimo do que ver que seguem as dicas e compram os livros é o retorno. Recebo comentários logo que as pessoas acabam de ler, ainda emocionadas.”
Às vezes, a relação azeda. Ele diz ter “recebido a ira” dos seus seguidores quando desistiu de ler “Namoro de Espinhos e Rosas”, de Sarah J. Maas, um dos livros de maior hype na internet.
Ainda levante ano, Tiago Valente poderá fazer um vídeo indicando o próprio livro, já que está concluindo sua primeira obra, uma ficção policial com protagonistas LGBTQIA+ voltada aos jovens, que será publicada pela Editora Pátrio.
“A leitura traz conforto aos leitores quando personagens enfrentam os mesmos questionamentos e desafios daqueles que não integram grupos mais privilegiados da sociedade.”
O exemplo de Tiago mostra que a frase “Saia da internet e vá ler um livro” já está ficando amarelada.